1. Introdução: Quando a Ambição Encontra o Desafio da Visão Estratégica
A notícia publicada recentemente pela Hold on Angola, sobre a proposta de Angola para adquirir os 85% da De Beers detidos pela Anglo American, num movimento ousado e estrategicamente simbólico, tem sido motivo de debate intenso. Trata-se de um passo que pretende reforçar a soberania económica e projectar Angola como actor dominante na geopolítica mundial dos diamantes. No entanto, como adverte Joseph Stiglitz, “os países que não alinham os seus investimentos com as tendências globais correm o risco de ficar presos a modelos económicos do passado”.
Estamos, portanto, perante uma encruzilhada histórica: entre consolidar a liderança no sector diamantífero ou diversificar para sectores que estão a moldar o futuro económico global. A prudência, a reflexão e o cálculo estratégico tornam-se essenciais.
2. O Orgulho Nacional e a Lógica da Soberania sobre Recursos Naturais
Angola é, hoje, o maior produtor de diamantes de África em valor. É natural que se queira capitalizar este posicionamento, reforçar o controlo sobre a cadeia de valor e conquistar mais autonomia tecnológica e comercial.
Como recorda Kwame Nkrumah, “o controlo dos nossos recursos é o primeiro passo para a real independência económica africana”.
A ambição nacional é legítima. Angola tem sofrido durante décadas o controlo externo dos seus recursos. A aposta na De Beers pode ser lida como um gesto de afirmação continental, sobretudo numa altura em que se fala de alianças estratégicas africanas no sector dos minerais.
3. O Mundo Está a Mudar: De Diamantes a Minerais da Transição Energética
Contudo, o mundo económico não está parado. Como salienta Jeffrey Sachs, “os países que prosperam são aqueles que antecipam o futuro e alinham-se com a economia tecnológica e verde”.
Neste momento histórico, o planeta vive uma corrida aos minerais críticos:
Lítio
Cobalto
Níquel
Cobre
Grafite
Terras-raras
Estes minerais alimentam sectores como carros eléctricos, baterias, satélites, fibra óptica, 5G, data centers e sistemas de inteligência artificial.
Enquanto isso, o mercado de diamantes enfrenta:
Concorrência crescente dos diamantes sintéticos
Alterações no comportamento do consumidor
Pressões ambientais e éticas
Volatilidade do mercado de luxo global
Dambisa Moyo alerta: “os países que apostam apenas em commodities tradicionais enfrentam ciclos de vulnerabilidade e dependência”. A história económica africana oferece provas suficientes desta fragilidade.
4. Porquê a Anglo American Está a Sair? Um Sinal a Ler Com Cuidado
A venda da De Beers pela Anglo American não é casual. É estratégica. A empresa está a direccionar capital para sectores que considera mais rentáveis e alinhados com o futuro energético e tecnológico mundial, nomeadamente:
Cobre
Minério de ferro
Dani Rodrik ensina-nos que “quando os grandes actores reorientam estratégias, as economias inteligentes observam, aprendem e ajustam-se”.
Assim, a questão não é apenas “porquê Angola quer comprar?”, mas também “porquê a Anglo quer vender?”.
Esta interrogação merece reflexão aprofundada. Se os grandes estão a abandonar o sector, qual a mensagem implícita?
5. Risco de Concentração: A Lição dos Economistas do Desenvolvimento
A dependência excessiva de um único recurso já custou caro a Angola no passado. O petróleo serviu como lição amarga. Como afirma Acemoglu, “desenvolvimento real exige instituições e estratégias que transcendam o sector dominante”.
E Amartya Sen reforça que “a liberdade económica passa por ampliar escolhas, não limitá-las”.
Assim, apostar num sector em transição sem garantir diversificação e inovação pode transformar um projecto patriótico numa exposição económica perigosa.
6. Para Onde Deve Ir Angola?
A compra da De Beers pode ser estratégica se integrada num plano nacional de:
✅ diversificação mineira
✅ industrialização local
✅ investimento em minerais tecnológicos
✅ transferência de tecnologia
✅ fortalecimento de capital humano
✅ parcerias africanas e sul-sul
✅ posicionamento em cadeias globais emergentes
Caso contrário, corremos o risco de repetir o ciclo: riqueza extractiva sem transformação.
7. Conclusão: Lapidar o Futuro, Não Apenas Diamantes
Angola está diante de uma decisão histórica. Controlar a De Beers pode representar poder, soberania e orgulho. Mas poder sem visão é miopia.
O mundo já iniciou a corrida. E os diamantes já não são os protagonistas do novo jogo económico.
Como diria Peter Drucker, “o maior perigo em tempos de mudança não é a mudança em si, mas agir com lógica antiga”.
Os diamantes encantam, brilham e são eternos. Mas os paradigmas económicos não são.
A grande aposta de Angola deve ser lapidar o seu futuro, e não apenas pedras preciosas.
O tempo da sabedoria estratégica é agora.
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