Conflito na RDC prejudica desenvolvimento de África, diz João Lourenço em Washington – Correio da Kianda
No seu discurso, durante a assinatura do Acordo de Paz entre a República Democrática do Congo e o Rwanda, o Presidente da República, João Lourenço, demonstrou o quanto o conflito no Leste da RDC, que se arrasta por mais de trinta anos, tem prejudicado o desenvolvimento do continente africano.
O Chefe de Estado disse que “a Região dos Grandes Lagos é das mais ricas do mundo, rica em recursos hídricos, terras aráveis, florestas e recursos minerais que estão no subsolo, mas, sobretudo, rico nas suas pessoas com potencial muito grande para desenvolver aquela região de África, que pode catapultar o desenvolvimento de outras regiões do continente”.
Nesta quinta-feira, 04, os presidentes de Angola, Burundi, Quénia, Togo e Qatar, juntaram-se a Donald Trump (EUA), Félix Tshisekedi (RDC) e Paul Kagame (Rwanda), em Washington DC, para a assinatura do Acordo de Paz, cujas discussões iniciaram em 2022, na capital angolana.
“Esta cerimónia vai por fim a um conflito que dura mais de três décadas, um conflito entre países vizinhos e irmãos que deviam estar bem, mas que por razões de diversas ordens tem vindo a digladiar-se ao longo do anos com pesadas consequências para ambos os países”, mencionou.
Dentre essas consequências, está, segundo João Lourenço, a impossibilidade de se desenvolver a agricultura e a electrificação, o que acaba por contribuir para o atraso do desenvolvimento de África.
“O mundo atravessa hoje uma crise energética e alimentar. África tem potencial para contribuir consideravelmente para a resolução dessas duas grandes crises, não apenas para o nosso continente, mas para o mundo”, assinalou.
Por sua vez, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, que até então não assumia publicamente envolvimento no conflito no Leste da RDC, que deixou mais de um milhão de refugiados, disse que “haverá altos e baixos no caminho pela frente, sem dúvida”, mas que o seu país “não ficará devendo”.
“O presidente Trump introduziu uma dinámica nova e eficaz que criou espaço para avanços”, elogiou e reforçou que “este é um passo em um processo que dependerá dos esforços de seu país e da República Democrática do Congo”.
Já o presidente da RDC, afirmou que os acordos de paz representam um “ponto de virada” para a região, prometendo que os congoleses os honrará.
“Eles reúnem, sob uma arquitectura coerente, uma declaração de princípios de um acordo de paz e também a estrutura de integração económica regional para proporcionar aos povos da região uma nova perspectiva, uma nova visão… a fim de iniciar uma nova era de amizade, cooperação e prosperidade”, disse Félix Tshisekedi.
O anfitrião, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que a pacificação da região abre a oportunidade para a assinatura de acordos bilaterais com ambos os países para compra de recursos naturais.
“Enviaremos algumas de nossas maiores e melhores empresas para os dois países”, disse Trump. “E vamos extrair parte das terras raras, adquirir alguns dos activos e pagar. Todos vão ganhar muito dinheiro”, disse, fazendo menção aos minerais de terras raras na África Central.
Conflito
O conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC) é uma crise prolongada, alimentada pela disputa por recursos minerais valiosos e pela instabilidade política, que remonta ao genocídio de Rwanda em 1994. A região é palco da actuação de inúmeros grupos armados, como o M23, que disputam poder com o governo central. Essa violência resultou em milhões de mortes, deslocamentos e crises humanitárias, além de ameaçar a segurança regional e o meio ambiente.
Estima-se que o conflito já tenha causado milhões de mortes, 6,9 milhões de deslocados internos e quase 1 milhão de refugiados, de acordo com estimativas da ONU. A violência e a crise humanitária são graves, afectando especialmente comunidades em áreas como Ituri.
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