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O milagre chinês desmascara o desleixo africano – Correio da Kianda

1. A estrada da transformação industrial

A China, outrora vista como o “grande fabricante de cópias baratas”, tornou-se na mais poderosa força industrial do século XXI. A sua revolução automóvel não é apenas mecânica, mas também digital, inteligente e estratégica.

Hoje, o mercado automóvel chinês ultrapassa as fronteiras da simples produção em massa, transformando-se num ecossistema de automação, inteligência artificial, sustentabilidade e planeamento geoeconómico.

Enquanto o Ocidente ainda debate metas de transição energética e enfrenta crises laborais, a China já conduz o futuro eléctrico e automático com naturalidade. Marcas como BYD, NIO, XPeng, Geely, Chery e SAIC Motor não são apenas montadoras, são verdadeiros laboratórios de engenharia digital, integrando algoritmos de aprendizagem automática, sensores inteligentes e plataformas conectadas em nuvem.

Em 2025, a China lidera a exportação mundial de automóveis eléctricos e inteligentes. Esse fenómeno não é um acaso económico, mas o resultado directo da absorção e reinvenção dos modelos produtivos ocidentais, nomeadamente o Fordismo e o Toyotismo.

2. Fordismo e Toyotismo: as lições que moldaram o Oriente

A história da indústria moderna começa com Henry Ford, nos Estados Unidos, no início do século XX. Ford introduziu a produção em série e a linha de montagem contínua, um sistema que reduziu o tempo de fabrico e democratizou o consumo. O Fordismo criou o ideal de eficiência, mas à custa da rigidez e da alienação do trabalhador, reduzido a uma peça da engrenagem.

Décadas depois, o Japão reinventou o conceito com Taiichi Ohno, criador do Toyotismo, que transformou a produção industrial num organismo vivo e inteligente. A lógica deixou de ser “produzir muito” para se tornar “produzir melhor e com menos desperdício”. O sistema Just in Time, a filosofia Kaizen (melhoria contínua) e o respeito pela inteligência do trabalhador substituíram a rigidez fordista pela adaptabilidade.

A China, observadora atenta da história, não copiou nenhum dos dois, integrou ambos. De Ford aprendeu o valor da escala, de Toyota a importância da qualidade e da inovação constante. Depois acrescentou o ingrediente do século XXI: a inteligência artificial.

O resultado é o modelo chinês de produção adaptativa, um sistema industrial que aprende, optimiza e se autoajusta. Aqui, a fábrica não apenas fabrica, ela pensa, prevê e reage.

3. O milagre da convergência tecnológica

O chamado “milagre chinês” não é um acaso divino. É o produto de um planeamento estratégico do Estado, onde a ciência, a tecnologia e a política industrial caminham na mesma direcção.

Desde o lançamento do programa Made in China 2025, o país definiu como prioridade tornar-se líder em sectores de elevado valor tecnológico, como a robótica, os automóveis eléctricos, a inteligência artificial e as energias limpas.

Nas fábricas chinesas modernas, os robôs colaborativos (cobots) substituem o trabalho repetitivo, enquanto os sistemas de Big Data analisam cada segundo da linha de montagem. O erro humano é minimizado por algoritmos que antecipam falhas e ajustam a produção em tempo real.

Trata-se de uma verdadeira fusão entre o homem, a máquina e o software, onde o trabalhador humano já não é o executor, mas o gestor da inteligência produtiva.
O sociólogo Manuel Castells (1999) chamou a isso “sociedade em rede”, onde o valor é criado pela conectividade e pela informação. A China soube transformar essa teoria em prática produtiva.

4. O Ocidente no retrovisor

Enquanto o Ocidente ainda olha o passado com nostalgia industrial, a China acelera em direcção ao futuro.

Nos Estados Unidos, o modelo fordista ruiu com a globalização e a desindustrialização; na Europa, o toyotismo tornou-se dependente de cadeias de valor fragmentadas.
A China, ao contrário, criou um modelo nacional de aprendizagem industrial, capaz de integrar a lógica global e transformá-la em soberania tecnológica.

Hoje, as fábricas europeias e norte-americanas compram baterias, chips e componentes de empresas chinesas, tornando-se dependentes da mesma nação que antes subestimavam.

É uma inversão histórica: a antiga oficina do mundo tornou-se o seu laboratório.

Segundo Joseph Schumpeter (1942), o progresso tecnológico é fruto da “destruição criativa”, um processo em que a inovação destrói velhas estruturas para abrir espaço a novas formas de produção.

A China compreendeu essa lógica melhor do que qualquer outro país. Destruiu a sua própria dependência de tecnologias estrangeiras e construiu um império da eficiência competitiva.

5. Entre o milagre e a lição

O sucesso chinês não se explica apenas pela economia, mas pela mentalidade estratégica. O Estado chinês investe fortemente em educação técnica, inovação científica e infra-estruturas digitais que sustentam o crescimento.
Cada fábrica é um laboratório, cada trabalhador é um aprendiz e cada automóvel é uma obra de engenharia conectada ao ecossistema urbano.

O automóvel chinês já não é apenas um produto, é um símbolo de autonomia civilizacional.
Enquanto o Ocidente enfrenta as contradições do capitalismo liberal, a China demonstra que o planeamento público e a disciplina tecnológica podem gerar eficiência e prosperidade.

Como escreveu Peter Drucker (1999), “as organizações que aprendem mais depressa do que os seus concorrentes serão as únicas sobreviventes do futuro”.
O mesmo se aplica às nações, e a China aprendeu depressa demais para ser ignorada.

6. O aviso no espelho retrovisor

O Ocidente deveria olhar para a China não com desdém, mas com humildade analítica. O país do dragão compreendeu que a indústria não é apenas produção, é conhecimento aplicado.
Aprender com o Fordismo e o Toyotismo foi o primeiro passo; reinventá-los com inteligência artificial foi o salto.

O resultado é visível:

“Enquanto alguns discutem teorias de gestão, outros constroem fábricas que aprendem sozinhas.”

O milagre chinês é, afinal, um espelho.
Ele mostra que o progresso pertence a quem ousa misturar o passado com o futuro, a tradição com o algoritmo, a fábrica com o pensamento.

A estrada é longa, mas o condutor já mudou e fala mandarim.

7. As lições para África e Angola

África deve olhar para a China não com inveja, mas com discernimento estratégico. O verdadeiro milagre chinês não foi apenas tecnológico, foi educativo, institucional e cultural. A China criou um modelo de governação económica baseado em planeamento, disciplina, mérito e aprendizagem contínua. Essa combinação é precisamente o que falta à maioria dos países africanos, ainda presos a políticas improvisadas, dependência externa e ciclos de importação sem produção.

O continente precisa compreender que desenvolvimento não se importa, constrói-se. A lição da China é clara: nenhuma nação progride sem domínio sobre o conhecimento técnico, a ciência aplicada e a cultura produtiva. O futuro africano exige Estados que pensem como estrategas, universidades que inovem como laboratórios e empresários que invistam como patriotas.

No caso de Angola, o desafio é transformar a riqueza natural em inteligência produtiva. Precisamos de políticas industriais próprias, de ecossistemas tecnológicos e de uma cultura de trabalho baseada em mérito, inovação e eficiência. O modelo chinês mostra que é possível unir planeamento público, visão estratégica e execução disciplinada para gerar prosperidade nacional.

A China não esperou o milagre, fabricou-o. E talvez seja essa a verdadeira lição: enquanto uns esperam ajuda, outros constroem o futuro com as próprias mãos — e circuitos.

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