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Pensar livremente num país que busca o seu futuro – Correio da Kianda

A frase atribuída a Immanuel Kant, “A liberdade de pensar é a maior ameaça aos déspotas”, não é apenas um enfeite filosófico; é um espelho intransigente da realidade. Em Angola, onde a história recente ainda guarda ecos de silêncio, receios colectivos e lutas pela própria definição, esta reflexão torna-se mais do que pertinente: torna-se urgente.

Pensar livremente é, por natureza, um acto revolucionário. Não exige armas, não convoca multidões, mas tem a força de remodelar sociedades inteiras. É por isso que, ao longo dos tempos, sempre que um povo começa a formular perguntas, os despotismos, sejam políticos, económicos, sociais ou culturais, começam a tremer. Porque o poder absoluto alimenta-se de duas coisas: medo e ignorância; e o pensamento livre destrói ambos.

No contexto angolano, pensar continua a ser um campo de batalha silencioso. A liberdade para questionar o que está errado, propor o que pode ser melhor e imaginar o que ainda não existe é, muitas vezes, encarada como insolência ou ameaça. Não porque o acto de pensar seja perigoso por si só, mas porque desafia o conforto de quem se acostumou ao poder sem contestação.

No musseque, o jovem que começa a interrogar-se sobre as razões da pobreza do seu bairro torna-se, sem perceber, um agente de mudança. Nas universidades, o estudante que se recusa a copiar modelos ultrapassados e ousa produzir conhecimento crítico não está apenas a estudar: está a libertar o país um pouco mais. Na Administração Pública, o funcionário que rejeita a normalização da corrupção e decide agir com ética ameaça, de facto, os “déspotas modernos”: aqueles que transformaram o Estado num meio de sobrevivência pessoal.

Kant lembraria que a verdadeira emancipação começa na mente. Não é a obediência que constrói nações sólidas, é a coragem intelectual. Angola precisa, com urgência, de um novo contrato moral no qual pensar não seja apenas permitido, mas incentivado; não apenas tolerado, mas celebrado. Porque nenhum país se desenvolve se os seus cidadãos não forem livres para imaginar um futuro diferente.

Os déspotas temem o pensamento porque ele ilumina. E a luz revela tudo aquilo que muitos gostariam de manter escondido: incompetências, vícios, desigualdades e abusos. É por isso que, em cada escola que funciona mal, em cada servidor público silenciado, em cada cidadão desencorajado a participar, há sempre uma lógica maior: a lógica de que pensar pode ser perigoso.

Mas é precisamente por isso que Angola só avançará quando abraçar a liberdade de pensar como pilar de governação, de cidadania e de desenvolvimento. Quando se aceitar que o contraditório não é inimigo, mas ferramenta; que críticas não são ataques, mas caminhos; que o debate não cria instabilidade, mas maturidade.

Pensar livremente é o primeiro passo para governar melhor, para servir melhor e para viver melhor. O que ameaça os déspotas é exactamente o que salva as nações.

E a pergunta que fica, olhando para Kant e olhando para Angola, é simples e profunda:

Estamos preparados para permitir que o pensamento livre floresça? Ou continuaremos a temê-lo como se fosse uma força destrutiva, quando é, na verdade, a única capaz de nos reconstruir?

A resposta, como sempre, começa dentro de cada um de nós.

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